04 dezembro 2010

Lutando Para não Sucumbir ao Calor

Atrás de minha orelha ensaia a descida de uma gota de suor.
Converso aqui com minha taça de vinho gelado que em nada me agradam dias como este de calor desenfreado e que não os suportaria se não fosse tais belos temporais que os acompanham nessa época.
Aliás, as nuvens já se contorcem nervosas em roxo e chumbo lá no céu.

Estava aqui lembrando minha passagem por Torino, na Itália, ha uns 15 anos.
Pensava aqui comigo como seria tudo em minha vida se tivesse descido ficar lá e não tivesse ído para Bielorrússia e posteriormente voltado para o Brasil. Como seriam meus dias, hoje?

Não sei, realmente não sei o que teria vivido lá, com seria hoje.
Mas uma coisa é certa. Tudo que vivi depois que saí de lá me fez de mim o que sou hoje. Cada experiência de vida, cada pessoa conhecida, cada dia de amor vivido e de dor também.
Cada um dos passos foram fundamentais para formar essa pessoa que eu vejo no espelho. Uma por uma das marcas e cicatrizes de meu rostos contam, silenciosas, meus momentos. E uma a uma eu as amo, pois são no seu conjunto o diário aberto dos meus dias.

E o que eu mais gosto disso tudo que vivi no Brasil esses anos são as pessoas que conheci e convivi por cá. Todas que me fizeram melhor e pior, que me fizeram sorrir e as que fizeram-me chorar. Cada uma que fiz sorrir e cada uma que fiz chorar. Pois o convívio com todas elas fazem o mosáico do vitral da minha existência.
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Ontem recebi um email de uma amiga muito querida e especial, em dada altura do email esta escreveu: "Hoje a tarde estava comendo uns biscoitinhos de Petrópolis e lembrei de vc!Especificamente no "seu coração"... Algo aqui dentro acredita q seu coração é molinho e gostoso como aqueles biscoitos!rs"
Eu gostei disso. Apesar de eu não crer que isso necessariamente reflita a realidade, mas saber que eu possa dar essa impressão por meus gestos, palavras ou escrita me traz contentamento.

Muita luz em seus caminhos, moça. Você fez um bem hoje. Que os Deuses e Deusas a iluminem sempre.
Bom é ter pessoas que nos querem bem em cada um dos recantos da esfera.

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Como disse em posts anteriores, a vida me aplica alterações importantes em meus rumos. Eu, navegante de mares revoltos interiores, reajusto as velas e giro o timão para melhor aproveitar esses ventos trazedores de mudanças vindouras. À que mares velejarei agora, assim de sopetão? em que portos atracarei? O astrolábio da minh'alma não está me valendo nestes momentos para antever e obter respostas para tais perguntas.
Veremos.

18 novembro 2010

Time off

Muitas coisas ocorreram nas últimas semanas.
Coisas essas que me levaram a uma tristeza profunda, uma desilusão cortante.
Vejo que errei em coisas fundamentais. Me equivoquei.
O ajuste disso será penoso e possivelmente incorrerá em perdas importantes.
Me sinto mau por saber que falhei em coisas importantes, magoei pessoas. Errou-se também, certamente, mas o importante é o que tem origem em mim, isso faz a diferença, e não se justifica pelo que acontece "lá fora".
Acho que é hora de eu me recolher. Estou cansado, exausto de alma, preciso me recompor. Aguardar fechar as feridas. Aguardar o tempo da cura.

31 outubro 2010

No Limits

Esta foto ao lado é de um dia, não faz muito tempo, que desci a serra para vivenciar uma linda tarde, ao lado de pessoas muito especias.





Mas coloco esta imagem aqui pois ela, de certa forma, representa como me sinto diante da vida neste instante. Vejo meus caminhos com muita neblina, chuva, ventos e desenvolvendo por caminhos sinuosos. O que não quer dizer que sejam badtrips, mas difíceis e irreconhecíveis até que se esteja a um metro das curvas.





Mas mudando de assunto, queria contar algo que mexeu muito comigo recentemente.


Sabe, já ouvi muitas histórias horrorosas e monstruosas de pessoas com intensões espúrias que se aproveitam da boa-vontade alheia, segue uma que aconteceu comigo, que conto resumidamente...




De uns tempos pra cá surgiu com certa frequencia, na porta de casa, um casal jovem solicitando ajuda, assistência. Eu eu, como sempre, busco auxiliar da melhor maneira que julgo que deva.

Passaram-se os dias e a frequencia aumentou, o que era de semana em semana passou a ser dia sim outro não. Mas até aí tudo certo, a necessidade não marca hora.





Esse jovem casal, que sempre se apresentou de maneira simples, tinha dois filhos. Um recém-nascido (é complicado como essas pessoas necessitadas são incapazes de evitar a natalidade). Eu sempre buscava dar toda semana mantimentos e leite para os filhos deles. Confesso que me apeguei às crianças e até mesmo ao casal, que cmo disse sempre se mostrou sincero e simples.





Certa feita, quando chegava de carro e encostei na garagem perebi que os dois estavam me esperando do outro lado da rua, a mulher sentada na calçada, com cara de não estar passando bem. perguntei oque acontecia, ela me disse que havera rompido dois pontos da cesariana feita no parto ocorrido fazia menos de um mês. Isso me preocupou.





Para resumir, uma semana sem aparecer, o rapaz me toca o interfone aproximadamente meia-noite. Atendi com muito custo, visto que estava muto gripado. O rapaz, diz que acaba de receber o aviso que sua mulher falecera, que precisa de um dinheiro pra poder chegar ao hospital. Eu, ainda meio sonolento me supreendo, mas além de estar muito gripado e lá fora estar uma noite fria e com ventos algo me disse para negar. Mesmo contrariado e me sentindo desconfortával, disse que voltasse no dia seguinte, que naquele momento nao dava.





Confesso que não dormi a noite inteira por conta disso, a culpa e o remorso me corroeu até o ultimo osso.





No dia seguinte o rapaz voltou, eu me desculpei por não tê-lo atendido e me compadeci com sua dor, dei uma auxílio e este disse entre gestos e falas de comoção que sua mulher morreu por conta de infecção da operçaão, descreveu como encontrou o corpo dela no necrotério e me convidou para seu velório e disse voltaria para sua terra, pois ali depois disso não dava mais pra permanecer em São Paulo.





Disse para o rapaz que não podia por conta de reuniões no trabalho, como de fato. Este foi embora. Entretanto no meio da tarde numa folga entre uma reunião e outra fiz as contas do tempo e resolvi dar uma passada no velório, afinal do rapaz era sozinho e deveria ser um momento horrível. Mas ao chegar no local e hora indicados nao tive a sorte de achar a cerimônia. Não havia o enterro das mulher dele ali. Puxa, certamente me equivoquei em algum dado. Voltei para casa.





Passou dois dias, e numa manhã o interfone tocou, era ele, o jovem viúvo. Estava avisando que ía para sua terra no início da manhã seguinte e pedia para que eu descesse... Interrompi sua fala e desejei boa-sorte. Desliguei o interfone. Dei as costas e me senti horrível, pois era possível qu equisesse agradecer por todo auxílio e talvez até quissse um auxílio para a viagem, o que seria cabível. Mas eu como sempre agi conforme meus intinstos e intuitivamente. Mas lhes digo, me senti horrivel, qual a razão de eu agir assim , tão diferente de mim?




Passou-se um mês.





Dois dias trás eu estava tomando um café observando a rua, assim recostado de ombro no canto da parede, donde quem passa na rua não me vê. E não é que vejo passando todo frajola o rapaz, de oculos escuros, fasceiro.





Pensei, como se recuperou bem rápido da trajédia. Triste de quem morre. E não foi para sua terra, mas quem sabe não conseguiu a passagem gratuita da prefeitura como pretendia.



É meus amigos, a realidade era bem mais asquerosa.




Hoje, eu e minha mãe estávamos na garagem, quando de repente, não mais que de repente, passa destraidamente a fantasma da mulher do viúvo com suas crias no colo e na mão, não nos viu. Ficamos boquiabertos. Logo atrás, uns dez metros o jovem-pseudo-viúvo, a chamando, pedindo pra esperar, para andar mais devagar. Ele virou a cabeça e nos viu, ficou por alguma fração de segundo estático e depois saiu correndo.





Minha mãe, começou a falar na cachorrada do rapaz, sem parar, e eu fiquei calado. Aquilo me deixou passado. Atordoado.





Veio a lembrança meu sofrimento, dor pela morte da moça que nem tinha vivido ainda e que deixava dois pequenos sozinhos no mundo, da minha correria para poder dar apoio a ele no velório, da minha culpa que me corroeu por nao tê-lo ajudado, da minha preocupação, de tudo. Fiquei arrasado, me sentindo idiota, manipulável, um panaca. Em seguida fiquei indiguinado.




Me senti ferido, por ter sentido uma dor por eles que eles mesmos não estavam sentindo, que jamais havera sentido. Canalhas.





A pior covardia é usar da confiança e boa-vontade alheira de maneira desonesta.





Pedi muito a Deus para tirar aquele sentimento que estava esperimentando naquele momento. Já fui quando jovem agente da FAO, inclusive em Minsk, e acompanhei de perto a miséria em Timor Leste no tempo da queda do totalitarismo lá. E vi muita coisa ruim e luta por sobrevivência que levava a atos sujos, mas nunca tinha vivenciado algo assim, tão covarde. Há mais detalhes que não contei para não estender mais esse livro.





Que os Deuses e Deusas me afastem desse tipo de criaturas.









Para desopilar o fígado disso uma música de extrema beleza e sensibilidade de


Linda.

22 outubro 2010

Um regador, uma praça, uma amiga.... e uma vitrola.

Hoje acordei ainda na madrugada.
Ensimesmado.
Pensativo.
Como se experimentasse sentimentos que não são meus, com aflições que não são as minhas. Como sê possivel estar, por dado momento, conectado a persepções com origem alheias a mim.
Levantei, caminhei pelo pasillo, abri a janela da sala, olhei o longe cinzento de São Paulo, me vinha uma música na lembrança: Tarde Triste, de Nana Caymmi. Na verdade de Maysa, mas é na voz melancólica e materna de Nana que essa música cria vida em minha alma. Nem me recordava mais dessa música, mas ela veio vivaz em minna mente, cantava, como se uma vitrola estivesse ligada por ali em algum canto escondido.
La ventana traz um vento suave e gelado no meu rosto. Fiquei olhando a paisagem enquanto pensava nisso tudo.
Visto a camisa, saio pela rua. Caminho pelas calçadas vazias do bairro. Viro uma rua, outra, desso a ladeira da quitanda, de longe numa rua próxima vejo, já de longe, uma senhora.
Está regando as plantas da praça, me aproximo e pergunto: - Posso ver a senhora dar de beber para as hortências? - Ela olha em primeiro momento desconfiada, mas logo imediatamente sorri e gesticula que sim com a cabeça.
Sento no banco e fico observando seu lavoro, enquanto os sabiás falam entre si e a terra chia com o embrenhar das águas em suas entranhas.
É claro que o espetáculo não sairia impunemente de graça e fui, ao seu pedido, encher seu regador algumas vezes em sua casa, de frente para a praça.
Depois de toda sede vegetal saciada naquele local, sentamos no banco e conversamos muito.
Ela, a senhorinha, tinha uma voz doce e apaixonante. Falamos de muitos assuntos e rimos muito. chegou minha hora e fui-me, antes fiquei de voltar outras vezes para acompanhá-la na tarefa, já que ela disse que todos os dias fazia isso. Ganhei uma nova amiga.
voltei para casa para me empetecar para mais um dia de trabalho. Chegando em casa ainda com as unha pretas de terra, arrumei minha pasta e... ... não, não fui trabalhar com unhas de roça, lavei-as.
E, ao sair, eis que a vitrolinha voltou.
Bem, agora não dá pra curtir música imaginária, volto a isso más adelante.

11 setembro 2010

De Volta

Já fazia um tempo que não ía para a cozinha, aprontar. Um dos lugares onde mais podam me encontrar em tempos ídos era diante de um forno e fogão.fazendo minhas carnes, meus cakes, minhas pastas, meus doces.

Mas agora não é mais assim, raramente me aventuro na cozinha. Todavia esta manhã as panelas e batedeiras sentiram minha fúria e executei algumas aventuras e desventuras por lá. Dentre estas uma bela (e deliciosa) torta de morangos.

Bem, deixando os assuntos culinários hora de lado, estou de volta a Sampa, para concluir meus projetos editorais. Que não são poucos e não são pequenos. Serão várias noites diante das pranchetas e do computador. Muita tinta salpicando pra lá e pra cá (para quem sempre me ouve falar dos meus trabalhos e nunca os viu, até pelo motivo de raras as vezes tê-los mostrado, quem quiser ver alguns neste endereço ,pode-se observá-los).

Deixe-me desligar o note que a bateria está no fim e eu perco este post.

Hasta pronto.

05 setembro 2010

Ondas noturnas

Estar no mar a noite é algo tão bom para mim. Sentir nos pés e no corpo as frias ondas noturnas. Ouvir o rugido do oceano na escuridão que funde o horizonte ao negro céu.
Isso é algo que me alimenta e me leva além de mim.
Esta noite é uma noite muito importante para minha vida. Nesta, possivelmente, muita coisa acontecerá e disso muito se alterará.
Talvez, quem sabe, por muito tempo este Mausoléu não me verá presente.... ou o contrário.

21 agosto 2010

cade la tranquilidad que deixei aqui?

Está no fim mais uma Bienal do livro de Sampa. Muita correria no último mês para preparar tudo que as editoras as quais trabalho precisavam para a presentação, na parte que me cabia.
Apesar de todo esse trabalho nem dei as caras lá. Gosto da Bienal, mas esse ano estava meio no limite, não estava a fim de esse mundo de gente, desse evento gigantesco. Aliás aqui em Sampa é assim tudo gigantesco, as vezes me dá um negócio em relação a isso, dessa megalomania. Tem uma parte (importante) de mim que gosta de reclusão, necessita; precisa de silêncio e de coisas modestas. E aqui pouco se encontra disso.
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Agora é madrugada, três horas, daqui da janela posso ver luzes nas janelas de prédios longe. Há pessoas nestes apartamentos, pensando, sentindo, felizes, preocupadas, com raiva ou fazendo amor.
Daqui vejo um edifício que há somente uma luz ligada. Está bem distante. Que será que está fazendo quem lá está? Será que um dia meu caminho irá cruzar com o dessa pessoa? ver seus olhos?
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Na Band Vale está tocando Roxette, aff, faz teeempo.
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Tenho muito material para produzir até segunda feira. Gosto muito do que faço, escrever é minha atividade preferida, graças aos Deuses a vida me levou para esse caminho. Passei boa parte do ano passado ilustrando livros e revistas, gosto muito também, mas o que me dá mais prazer é realmente escrever. Seja realidade dos jornais e revistas, seja ficção dos livros. Me faz melhor, me decodifica, me saneia, me conduz por um caminho a qual sou mais completo e dou passos mais firmes, mais seguros. Me reconheço.
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Nos próximos três anos pretendo me dedicar mais e mais a isso, negligenciei demais meus amores. Abri mão de mim quando jamais deveria tê-lo feito. As coisas estão se encaminhando naturalmente para isso, para a correção. Vou seguir o caminho que me está sendo apresentado, aliás, que muito me agrada. Parece-me que depois de muitos anos as coisas estão voltando a sua originalidade.
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Agora toca Tony Bennett, me deu vontade de viajar, ...vai entender.
Fico pensando, deve haver pessoas trabalhando agora na madruga nessa rádio, quando era mais garoto sonhava em trabalhar numa rádio, crê? Essa rádio está localizada em São José dos Campos/SP, essa tar de interneta viabilizou coisas bem interessantes mesmo. Eu gosto de escrever ouvindo esssa rádio quando varando a noite.
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Aconteceu algumas coisas essa semana que me deixaram com um pouco de raiva no coração, isso não é comum de acontecer, preciso tirar isso do peito.
Não sei se consigo escrever sobre isso.
Estou procurando a paz aqui no meio da madrugada, o equilibrio, mas creio que não estou conseguindo encontrar o vêio. Minha mente está trabalhando muito rápido, pensamentos em turbilhão. Tem um pedaço de mim que está agoniado, eu vejo. Queria um sorriso, uma conversa à toa.
Acho que vou sair um pouco. Preciso achar o ponto exato disso, não gosto de estender problemas, dilemas. Coisas pequenas viram coisas grandes quando a gente não desembola logo.
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agora La Barca, Moira vem dançar comigo. Ma tu dormiu?
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vida linda, vida louca.

12 agosto 2010

Chuva Leonina se aproximando

Hoje, a Nasa prevê uma linda chuva de meteoros visível nesta madrugada agora (13/08), lá pelas duas da manhã (veja reportagem do portal Terra). Eu adoro as Perseidas, é assim que a astronomia chama esta chuva Leonina. Pois sempre, concomitantemente, ocorrem coisas curiosas em minha vida.
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Segue abaixo úlimo texto que escrevi sobre as Perseidas, ainda no endereço velho do Mausoléu, no Blogger. É aguardar e assitir.

[Sexta-feira, Dezembro 03, 2004]

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Olhai as perseidas no céu
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Semanas sem se manifestar. Mausoléu cerrado, silêncio sepulcrau (como de praxe é um Mausoléu). É estranho como a vida traz uma sucessão de acontecimentos que nos afastam das coisas que amamos, não é? Bem, deixe isso pra lá...
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Mas ao emergir do profundo de meus imprevistos previsíveis vejo em minha caixa de emails e comments dizeres tão legais, é muy importante saber que pessoas sentem falta da gente, do que fazemos ou escrevemos, do que temos a dizer, enfim, de nós. Gente que está em outros lugares, acerca ou longe, outros países, outras realidades, e estão tão pertinho da gente como outros que estão ombro a ombro fisicamente não estão. E sabem de nós, e os que nos olha cara a cara não sabem. É bem interessante.
Meus mais profundos, sentidos e fortes agradecimentos a todos que aqui visitam e às vezes deixam (ou não) seus posts e me fazem crer que sou importante ou que faço parte de um momento de sua atenção. Isso é mágico para mim e de extrema importância.
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Não tem nada a ver, mas no dia 19/11 por conta de uma chuva leonina (aquele montão de meteoros riscando o véu negro do céu noturno) fiquei de cara pro ar olhando o firmamento por um belo tempo na madrugada. Foi bem interessante, pouco vi dos meteoros, mas fiquei contemplando a imensidão celeste na noite. A gente fica sempre olhando pro chão e esquece do universo. Fica registrado na nossa mente que o "Tudo" é um raio de 30 metros a nossa volta e acabou. Então quando olhamos para o espaço perdemos a noção de parâmetros de tamanho e distância diminutos que elegemos para nossa vida e mondo e quando baixamos a visão pro horizontal novamente temos a real percepção que estamos encarcerados em nossos minúsculos e ridículos corpos físicos e que vivemos como ínfimas partículas num universo mais do que gigantesco. Quando olhei a minha volta me senti um pouco "pequeno príncipe" regando a rosa e desentupindo vulcões num minúsculo planetinha então quis também segurar a cauda de algum cometa e sair pela Via Láctea conhecendo vários lugares, outras plagas.... ... ...Ilusão... ...
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Acho q preciso viajar dentro de mim, Já que não posso ser o Cosmonauta da literatura. Conhecer outras galáxias e quadrantes dentro do universo de meu próprio eu, invariavelmente conflitante e peremptório. Me aventurar pelos oceanos desconhecidos das almas que estão próximas a mim, descobrir novas matizes das conhecidas cores das paisagens da minha rotina. Desbravar o Cosmo de meu lugar comum... ...Expandir.
Parecem bobagens mas certas vezes estas coisas, as chuvas leoninas ou outras paradas, aparentemente sem relevância me põem a pensar e delirar por dias, semanas, meses às vezes. Sempre estamos pensando em ganhar dinheiro ou provar que podemos mentir mais perfeitamente que o outro e temos vergonha (ou sei lá o quê) de aplicar tempo pensando nas chuvas leoninas. Eu queria perder mais tempo olhando para o céu nas noites de perseidas e chuvas leoninas. Talvez algum dia me convenceria que o universo não é só os espaços que fazem parte do meu dia-a-dia da maneira que conheço.
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por Ôbèron * Sexta-feira, Dezembro 03, 2004

23 julho 2010

La tormenta

Está chovendo lá fora.
Muito.
Nem quero pensar no estrago
que se encontrará quando
parar esta chuva e
se puder sair no alpendre.
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A janela está fechada,
mas eu vou abri-la,
e eu sei que tudo aqui ficará molhado,
e o vento que a acompanha
colocará tudo fora dos seus lugares.
molhará minha roupa e
eu tremerei de frio.
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O vento está assoviando pelos cantos e
pelas frestas,
Remexendo as folhas e os gravetos,
descobrindo o que estava oculto por estes.
Está cantando e avisando da
chegada da tempestade.
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Ela está a alguns minutos daqui
contorcendo suas nuvens furiosas
em roxo e chumbo.
Quando ela chegar, volumosa,
vai extremecer as vigas e colunas,
e quando ela passar não sei se
a choupana que construí com os dias estará de pé.
Não sei se as cercanias que eu conhecia
estarão lá para serem reconhecidas mais uma vez.
E sim, isso só não traz medo para os vazios.
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Sempre que uma tormenta passa
pelo vilarejo da gente,
leva e quebra muitas coisas que gostávamos,
e nos faz chorar ou ranger os dentes.
Sim.
Mas também lava o pó, limpa os grotões,
quebra todos os galhos envelhecidos e telhados fragilizados
com o tempo e com os acontecimentos.
Nos impele para diante,
ainda que que com muita dor.
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ela chegou,
e a janela está aberta.

16 julho 2010

Quem sabe isso tudo valha a pena...

Ontem recebi a ligação de um velho amigo meu. Fazia alguns anos que não nos falávamos. Para ser mais exato cinco anos. No seu telefone havia um certo tom de urgência, isso me preocupou. Foi uma rápida conversa, alguns minutos. Ele pedia que o encontrasse no hotel a qual estava hospedado.

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Eu estava, como sempre com trabalho até o último fio de cabelo, mas eu jamais poderia negar o pedido desse meu especial amigo. Lá fui eu.

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Fui pensando mil coisas, o do por quê ele queria me encontrar assim de qualquer forma. Foram inúmeras as idéias que minha mui fertil imaginação de escritor pôde, no intervalo de 45 minutos, formatar a respeito.

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Quando cheguei no hotel ele me recebeu com largo sorrido e apertado abraço. Bem, pela aparência nenhuma tragédia o assolava os dias, ao menos a cara não declarava.

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Disse ele:

-Eder, amigo meu, vou falar rapidinho porque daqui a pouco tenho de pegar avião de volta a Ásia. -virou-se para uma pasta abriu um envelope e retirou um cd - Segura, é teu, tá autografado e com dedicatória. Agora não me pergunta o que tá escrito que eu não sei nada de chinês.

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Peguei o cd e olhei. Supresa total. Era um cd de uma instrumentista chinesa, Wei Wei Wuu, ela toca erhu (violino chnês), é um expoente contemporâneo do intrumento. Eu sempre amei sua arte. Pois esta é viva. Sua música fala sua extrema sensibilidade.

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Me lembro de ter mencionado uma vez isso com ele faz muitos anos, e ele havia gravado. Não esqueceu. E quando em viagem a china a trabalho, pôde ir ao um evento onde ela tocava e lembrou de mim, do que havia dito, e conseguiu um cd autografado.

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Para mim foi um gesto tamanho em generosidade. Mais ainda, grande prova de carinho, de amizade verdadeira.

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Fiquei muito feliz. Essas coisas fazem a gente acreditar que vale a pena toda essa insanindade de vida e que talvez esteja fazendo as coisas corretamente, que esteja lidando com as pessas de maneira a contrair o respeito e carinho delas.

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Vos digo:

por mais difícil que seja, não lide na superficialidade com as pessoas a sua volta, lide com respeito e atenção. Olhe nos olhos, se importe de verdade.

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Amizade, real ou virtual, é coisa rara, é algo para se guardar longe do nosso lado menos iluminado.

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Quer escutar Wei Wei Wuu? então ouça, aqui.

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01 julho 2010

Na madrugada fria e estrelada...

Voltando para casa hoje, na madrugada, me chamou a atenção o ceú noturno. Estava aberto, sem nenhuma nuvem, lavado pela garôa de horas anteriores.

Antes de entrar no meu Mausoléu, fiquei fitando firmamento, coisa linda. A vivascidade milenar das etrelas.

Entrei, para me proteger do frio uns instantes. Reaqueci meu Croque-monsieur (iguaria preferiada desde a adolescencia). Corpo aquecido e o estômago forrado voltei ao relento, à fria noite, para olhar a beleza celeste.

Coloquei na mureta da sacada minha xícara de café ignorantemente quente e vagarosamente levantei a cabeça e o olhar, e no exato instante, na extaa direção, no exato instante, uma estrela Aqueles um ou dois seguundos viviveis para mim de tamanha beleza foi o incerrar de um movimento talvez milenar.

Fiquei pensando naquela beleza de morte.

Pensei, quantas décadas, séculos, milênios, ou talvez milhões de anos, este fragmento celeste viajou pelo universo, talvez atravessando a galáxia, para naquele momento, finalizar sua "tarefa"; ali, diante de meu olhos. Quantos cinturões, quantas nebulosas, planetóides e planetas tangenciou silencioso e opaco para morrer de maneira brilhante e fulgurante a algumas centenas de quilometros cabeça acima de Ôbèron? no exato momento que olhei para aquele ponto foi seu fim de quantos zilhares de anos?

Enquanto tomava meu café e fazia um cafuné fiquei a pensar nisso tudo, na viagem, na cincronicidade das coisas.

Da cincronia dos encontros, que magia amarra os fatos?



De como, por exemplo, duas pessoas na grandeza do mundo, se encontram dado momento e se apaixonam, de como um ser humano encontra sua morte numa sequência de fatos não críveis tamanha a volta das coincidências, e de tantas outras cincronicidades da vida.

Destino? Fatalidade? Circunstancialidade? Uma mão invisível, governança oculta?

O que é destino e o que é fruto das ações humanas?
O que é inefabilidade e o que é simples improbabilidade físio-química.

O que é "vontade de Deus" e o que é simples limitação do homem diante das circunstâncias?




O que um pedacinho de pedra viajando no espaço não faz com cabecinha mole de alguém sem mais nada o que fazer no meio da madrugada, não é mesmo?


ps.: no meio desse "pensarê" todo esqueci de fazer meu pedido pra estrelinha : S



26 junho 2010

Textos empoeirados

Nesta madrugada, por um acaso, tropecei nesse meu velho texto, escrito faz alguns anos, ainda do tempo das velhos grupos de discussão, antes da internet como a conhecemos, das BBS's alguém lembra disso? era parecido com que hoje conhecemos por email. Foi no ano que a Embratel abriu o serviço comercial da net, mas praticamente so havia linhas entre centros acadêmicos. Isso que conhecemos, portais como Ig, Globo, UOL, Terra, Google, nada disso existia, como era chatinho, praticamente so havia os grupos de discussão, tudo em texto, nada de imagens, nada de HTML, eu tive sorte que minha agência de comunicação ligada ao grupo Abril era plugada na rede, por tempos limitados durante o dia, claro.
este texto, me fez rememorar, e fez reviver dadas sensações, do momento descritos naquelas linhas. Resolvi postá-lo por aqui.
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Salve, lista.
As coisas que queremos estão ou acontecem nos lugares e momentos em que não estamos preparados para enxergá-los, algumas vezes.
Sendo desta maneira, passamos muito tempo pedindo por coisas que estão diante de nós o tempo todo. Parece tão óbvias estas palavras que poderia, em primeiro momento, soar inútil dizê-las. Mas só com a repetição poderemos tê-las (pelo menos um pouquinho tempo) em nossas mentes.
senão vejam só...
Hoje, por conta de uma greve de ônibus em Sampa, o trânsito estava terrível. E eu, para chegar em meu principal cliente, preciso atravessar a cidade e ir até um município vizinho. Isso significa percorrer algumas dezenas de quilômetros, que em dias normais leva-se pouco mais de uma hora (imagina-se hoje...).
Em meio àquele transito caótico pensava comigo sobre buscar uma qualidade de vida mais satisfatória, talvez me transferir para o interior ou para uma cidade litorânea, sei lá...algo que fizesse com que eu me poupasse de dias como esse (cada vez mais freqüentes por aqui,) da violência, da poluição de toda ordem, da impessoalidade do tratamento entre as pessoas das metrópoles; era necessário.
Certo momento parei e estacionei em uma confeitaria, telefonei avisando que não compareceria na agência como de hábito, pedi um café e me pus a pensar naquilo tudo. observava as feições dos motoristas que passavam, das pessoas que transitavam pelo passeio. Todos extremamente irritados. Pensei de como estava sendo alimentada uma nuvem de "mau-humores" sobre a cidade.
Cadê a beleza humana dessa cidade? - questionei a mim mesmo - numa cidade assim não quero viver.
Sentei na extensa soleira do estabelecimento, bem no cantinho, perto de uma cerca viva.
Ao mesmo tempo que observava a movimentação da via, percebi que naqueles arbustos agitavam-se uma comunidade de besouros (e que bichinhos bonitinhos aqueles), fiquei a admirá-los, me perdi, absorto naquela cena, na micropaisagem esquecida pela selva de concreto, quase dentro dela.
Uma criança chegou também e eu mostrei o centro de minha atenção, falei algo sobre e, agora acompanhado, retornei àquele voyerismo coleóptero (rs). Por algum tempo toda minha vida se resumiu a olhar aquele pequeno espaço.
Quando dei por mim percebi que agora éramos três, o irmão do garoto havia chegado e sem que eu me desse conta já estava sossegadamente instalado em meu cangote. E o primeiro garoto recostado em meu ombro também via aqueles pequenos insetos.
Aquela tranqüilidade e naturalidade que pessoas que não se conheciam mostravam ao assistirem, juntas, uma cena tão frugal e despretensiosa era, pra mim, algo mágico (caso vc esteja se perguntando o q isso tem a ver com magia), transcendente, e me fez ver a beleza da cidade que minutos antes se recusou a exibir-se aos meus olhos.

Aquilo que eu buscava no interior, no mar, longe dali, a quilômetros, estava agora num raio de um metro e meio à minha volta: a Beleza Simples da vida, Combustível da Saúde do corpo e da alma; Magia Suprema que traz amor e esperança.
Estas coisas são tão certas, claras e manifestas que na maioria do tempo esquecemos, ignoramos.
Deixamo-nos dominar pelo desencanto e pela irritação e nos tornamos cegos para O Grande Encantamento do Mundo e buscamos magia em palavras místicas ou rituais elaborados, alegria e felicidade em conquistas temporais e lugares longínquos, impossíveis de chegar.


A única coisa que peço esta noite aos gênios da minha vida e aos Deuses do Mundo é que não me deixem muito tempo esquecido destas verdades. Tenho certeza que serei feliz por muito mais tempo caso isso ocorra.


Vida longa à todos!
Ôþèrøn



por Ôbèron
JUN 1995

24 junho 2010

Essas coisas que trago

Sempre, numa avaliação apressada me consideraram gótico. Isso foi desde novinho, sempre tive um jeito que, para o apressado, pareceu, por falta de observação e até conhecimento, para o outro, que o fosse.


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Confesso, que até para mim, muitas vezes principalmente quando novo, pela insistência alheia, achei que tivesse esse espírito Gótico, ainda que de viés. Confesso também que curto muito a arquitetura gótica, a arte e tals. E de certa forma, ainda que numa estrada paralela, esse clima me encanta, e que muitos dos meus amigos foram ou são góticos.


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Mas, não, não sou. Nem nunca fui.

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Estou mais para um açoriano, um lusitado, com seu espírito melancólico sem infelicidade, de sofrimento não amargurado, de saudade de coisas não vividas, de olhares no mar agitado e águas frias. Espírito solitário e abissal.


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Não achemos que toda solitudine e melancolia é gótica, ou feia, ou triste, ou suicida. Não se apresse. Não se afobe.

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Para ouvir:



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E você vai para o corredor 7, prateleira 5, espaço B15.

Como é de praxe, a mente humana que é confusa e sem foco, busca fracionar o todo para buscar, em vão entendê-lo. Em vão pois, com não, é improvável compreender o todo dividindo o mesmo. compreendes algo da parte, mas se distancia da paisagem completa.
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E para assim, não é diferente com seus pares, as pessoas. A mente confusa, busca (inutilmente e levianamente) fatiar as pessoas para mais rapidamente entendê-la (como se possível isso fosse). Penso: se não conseguimos nos compreender e nos decifrar mesmo numa auto-análise de uma vida inteira, como podemos supor que podemos decifrar (e, ainda, classificar) o que está fora de nosotros.
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Frequentemente, fatiamos as pessoas por credo, partidarismo, time de futebol, estilo de vestir, profissão, raça, opção sexual, bonito ou feio, legal ou chato, inteligente ou burrinho, e por aí vai. Ninguém simplesmente é; ela faz parte de certa classe e assim é etiquetada, empratileirada e limitada a um conceito externo de uma pessoa ou grupo delas.
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Patético.
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23 junho 2010

Os pingos no meu rosto

Quando tinha nove anos deram-me
um violino de palmo e meio
e palmo e meio de emoções.
(Yehuda Amichai)

Um dia melancólico hoje aqui está, não sei, não me pergunte a razão, simplesmente está. Há um vazio, não em mim, mas nesta casa. Sentindo falta de coisas, coisas que nem sei o que.
Tenho trabalhado muito, viajado muito, rompendo muitos limites, quebrando meus mitos e medos, mas sem olhar para o lado, pois é hora de romper as amarras. Sim, mas isso tem seu custo. Como o velocista que quando, ao estouro do sinal, rompe o ar com toda a explosão de seus músculos, ele só vê a reta de chegada ao longe, para ele nada mais existe, tudo para, o giro da esfera, o cair das folhas, o rugir do mar, nada mais, somente seu corpo em extremo segue de encontro ao seu foco. E ele vai.

Mas isso tem seu custo.

Só os mortos não morrem
Só eles a mim me restam
São tranquilos e leais
Os que a morte não pode matar
Mais com seus punhais.

Ao declinar da estrada
No final do dia
Em silêncio se acercam,
Em sossego seguem minha via.
Verdadeiro pacto é o nosso
Nó que o tempo não desmente
Só aquilo que perdi
É meu eternamente.
Rahel (Bluwstein)
Estou olhando para os lados agora, nada mais. Está tudo tão silencioso, as folhas ainda não estão caindo, e a esfera ainda tarda.
Vivo em estradas paralelas, onde uma estou vencendo em dias de sol, em outras perco em dias de chuva, em algumas o murmurindo da multidão vibra o ar, numas o silêncio vibra meu ser.
Sou um e sou vários, com humores diferentes, satisfações diferentes. É interessante este meu momento. Ao mesmo tempo que sou foco, sou refração. Mas creio, é a tônica do mundo, do ser humano. sou só mais um.
Então, sou único, mas sou como qualquer um.
Procurei em livros e livros,
Um poema,
Um parágrafo,
Uma frase,
Que me resguardasse da mágoa, Como janela de vidro protegendo o rosto da chuva.
Mas nada do que leio chega para contar o que sinto.
( N.G.J. )

Por vezes me pergunto, estou fazendo a coisa certa?
Os dias dirão.

Sinto os primeiros pingos em meu rosto.

14 junho 2010

Eu quero, eu quero, eu quero!

Acho muito curioso as vontades das pessoas e como estas as dominam.
Como é patética a postura das pessoas diante da negação destas vontades. Como se transformam. Como se revelam.
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Todos querem que suas pequeninas vontades pequenas sejam realizadas e acatadas, e no caso contrário não conseguem desfarçar suas insatisfações, seus corações mimados e inseguros, fracos e umbigocêntricos.
Pessoas despreparadas que são para a vida e para o mundo. Crêem que são o centro das circunferências, sonham (pobres seres) que todos e tudo tem de funcionar de acordo com seus "eus".
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Se as coisas não são como desejam (e normalmente não são), se alguém não faz o que quer, se as circunstâncias não se apresentam de acordo com vossos crus anceios isso é o bastante para se tornarem (e retornarem a ser) bebês, batendo o pezinho no chão. Despreparadas para a vida. Nunca são felizes, sempre se acham mais preparadas, mais visionárias, mais responsáveis, mais dinâmicas, mais inteligentes, e pois como não, mais merecedoras.
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E com isso vão estendendo seu sofrimento, sua insatisfação com a vida. Mormente clamando aos Deuses por... .... ....justiça.


...Palavra perigosa de se clamar.

14 maio 2010

"Deixa a garôa cortante da madrugada de São Paulo cortar e molhar seu rosto. Deixa te levar para outra dimensão, te transportar, te transbordar." Foi o que ela ouviu ao fechar seus olhos e içar sua cabeça ao céu negro e nebuloso d'onde caia desconexas gotículas insanas e geladas, típicas daquela terra, num desejo desesperado e urgente de ouvir os Deuses, de transcender a paisagem óbvia e concreta avistada por seus globos oculares.
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Saudade dos velhos tempos, dos velhos amigos, distanciados pelo tempo e pelos acontecimentos, das velhas aventuras e desventuras, dos belos lugares, das juveníces de escola. Mas não uma saudade amargurada, uma nostalgia boa sim, gostosa, que traz felicidade, leveza, não angústia e frustração, lágrimas ácidas.
é muito, muito bom ter coisas boas para rememorar, saber que a vida está sendo vivida com intensidade e vivacidade. Certeza que de estar escrevendo a história no livro de sua vida com letras maiúsculas e bem traçadas.
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Rua Ramalhete

Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes,
O amor anotado em bilhetes,
Daquelas tardes.

No muro do Sacré-Coeur,
De uniforme e olhar de rapina,
Nossos bailes no clube da esquina,
Quanta saudade!

Muito prazer, vamos dançar
Que eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido,
Vamos deixar tudo rolar;
E o som dos Beatles na vitrola.

Será que algum dia eles vêm aí
Cantar as canções que a gente quer ouvir?

Tavito e Ney Azambuja

Faça-nos ouvir: Rua Ramalhete - Tavito

11 abril 2010

Augùri

Ontem, noite fria e com garôa em Sampa, saí para comemorar meu aniversário ao lado das pessoas que amo. Foi um dia especial. Muitas coisas legais acontecendo, muita gente especial ligando, muito email, torpedo, scrap, isso é bacana. Dá um up na gente. Meus amigos-irmaõs(ãs) você são tudo para mim. Blue, já não sei onde eu acabo e você começa em minha vida. No works.
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Final do dia, fomos na Dona Carmela, aquele lugar é muito bom, e muito aconchegante. Ótimo para conversar, ótimo cardápio, pessoas incríveis nos servindo. Parabéns, galera.
Pena não poder apreciar a bela carta de vinhos que lá nos há a disposição... ...remédios, remédios... ...
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Mas no meio de tanta coisa boa neste 10 de abril uma coisa ruim tinha que aparecer, mesmo que não fosse dígna de minha atenção, algo realmente para se encarar com desvalor. Descobri que uma pessoa que começava a confiar na web estava vasculhando, feito rato, meu pc. Tinha instalado via mensagem um arquivo malicioso e graças a este conseguia se esgueirar pelas pastas de meu computador como uma barata faz pelos cantos escuros das casas.
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A web tem dessa, de melhor e pior; podemos encontrar pessoas incríveis e que nos acrescentam e também pessoas sórdidas e escorregadias, que nos subtraem, que nos lesam se valendo da atenção e abertura que as damos, aparentemente inofensiva.
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Já encontrei outras baratas como esta, mas encontrei muito mais amigos incríveis que estão e estarão sempre no meu coração e nas minhas preces. Para vocês, todo meu respeito e carinho, jamais os esquecerei. Sempre os valorizarei.
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Para todos que sempre me dispensam carinho e respeito, meu sincero "Muito Obrigado".
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Toque para nós: Amizade Sincera - Renato Teixeira

25 março 2010

Semaninha.... já foi

domingo, saí para tomar uma grapette, mas no insucesso (previsível) passei na sorveteria da padaria Bella paulista, tradição da Haddock Lobo,... hhmmm... delícia aqueles gelados especiais.
Precisava oxigenar as idéias, respirar um pouco.
Sorvetes, conversas, bobagens, novos pensamentos e insPirações, is good.
Depois de um bom e agradável tempo sentado nos bancos laterias da Bella Paulista caminhei para continuar meu dia.
Levar a minha Moira gata ao veterinário para retirar pontos da esterilização.

segunda, me encontrei com alguns velhos amigos. Para manter nosso velho (e enferrujado) espírito subversivo combinamos de tomar um capuccino com bolachas (de graça) no desjejum do laboratório Belboni Ariemo. Mais bobagens, mais ladainhas...

terça, correria total para seguir cronograma do novo jornal A Gazeta Verde que sai impresso já em abril, muuuito por fazer. Diagramações, matérias, anunciantes, patrocinadores...
Aguentar o vizinho escutar seu forró em todo volume no meu ouvido. Por que será que todo mundo que gosta de ouvir "música" no talo só aprecia música tranqueira?


quarta, dor no pé da coluna (coisa de véio), e eu andando torto o resto do dia.
Desenhar gráficos e ilustrações para enciclopédia de ciências (isso eu gosto). Mas desenhar com dor na coluna não é nada interessante.
Passagem à noite pela Livraria Cultura, meu Playcenter.

quinta, mais correria para executar ilustrações da enciclopédia e roteirizar histórias para revista infantil. Acho que esses editores imaginam que nós artistas somos máquininhas de criar. É só apertar o botão e inicia-se a produção artística, como sê pastelaria. Bem, Eder, deixa de reclamar.


sexta, ... ... .... eu quero a minha Grapette.

12 março 2010

Glauco, amigo meu, que os Deuses de Valhala te recebam de braços abertos.

Diário de Bordo,
hoje é dia 12 de Março de 2010
e ainda navega em minha mente o sentimento de incredulidade.
Faz algumas horas recebi uma ligação de um amigo meu editor que me fez estremecer. Nosso amigo em comum havia sido assassinado juntamente com seu filho neste dia.
Glauco Villas-Boas, nosso querido e retardado amigo cartunista estava morto. Fora assassinado por patifes na madrugada de hoje.
Glauco e eu haviamos trabalhado juntos na mesma editora no início dos anos 90, na editora Circo. Eu em início de carreira e ele já consagrado cartunista premiado. Aprendi muito com ele, Laerte e Angeli. Todos sempre estavam por lá. Editavam suas revistas mesais pela Circo. Eu era um ilustrador e redator de revistas em quadrinhos de terror e eróticas com poucos anos de estrada.
Atualmente nos esbarrávamos vez por outra em eventos de HQ e livrarias.
Cara, não dá para crer. Uma vida criativa se vai por meros tostões para comprar pedrinhas dessa droga do capeta.
Já estou lutando contra essa bendita depressão que me abraçou após o falecimento de meu pai mês passado. Agora essa.
São dias difícieis, dolorodos. Que os Deuses confortem sua esposa, filhos e familia.

16 fevereiro 2010

Alexandre e seu companheiro Bucéfalo

Muito, muito calor nas terras de Piratininga. Saudades de ti, Sampa veritas, minha terra da garôa. Para suportar esse Kalahari somente com um bom dry martini bem gelado a cada, digamos, 5 minutos.

Dia desses em passagem pelo Centro Cultural São Paulo para ver a exposição Quadrinhos Marginal - 40 anos o inusitado aconteceu, para variar, em meu caminho. E como não poderia deixar de ser, um gato permeou o ocorrido.
Sentado estava eu no Graffiti, restaurante do CCSP, degustando avidamente (leia-se devorando) meu fast-food ao mesmo tempo que lia um fascinante Austregésilo de Ataíde quando, de relance vi uma pessoa puxar conversa com o homem da mesa ao lado: - Boa tarde, poderia o senhor oferecer algo para mim e meu gato? - muito educadamente solicitou um andarilho. - Vá à m... seu vagabundo. Procura o que fazer, seu lixo, que não vai precisar me torrar o saco pedindo nada! - Escoiceou o cidadão sentado a mesa.

Pensei comigo: - Bastava um sincero "não".
Olhei o gato que o senhor tinha no colo, um tigrado belo e bem robusto, autivo e com ares de aristocrata, como todo gato deve ser. Respirei fundo e fechei os olhos para não me envolver num inútil bate-boca com um ser de espírito endurecido. Neste instante ouço o andarilho balbucear - Sors immanis et inanis - como? eu ouvi isso? o "vagabundo" soltou um latim mais que apropriado para seu momento desafortunado? (Sors immanis et inanis - Destino monstruoso e vazio) Levantei a cabeça e olhei para ele, que já estava saindo de lado. Falei: Dum vita est, spes est (Enquanto houver vida, há esperança) e convidei-o a sentar a minha mesa. Ele sorriu e com um balançar de cabeça elegante aceitou e sentou-se, ele e seu belo felino.

Pedi um salgado para o nobre vagabundo com café e um copo de leite para o bichano. Percebi que os garçons não gostaram da minha atitude mas para mim pouco me importou. Me apresentei e perguntei seu nome - Alexandre - ele disse. - E o bichano? - perguntei. - Bucéfalo - respondeu.
Sim. Nada mais apropriado que Bucéfalo para o companheiro de Alexandre. Percebía-se que o andarilho tinha alguma bagagem literária. Comeram cada um suas refeições enquanto eu prosseguia em minha leitura.

-Quer mais alguma coisa? - perguntei ao acabarem.
-uma chave de um cofre de banco, que tal? - sorrindo.
-Ab amicis honesta petamus (Só devemos pedir aos amigos coisas honestas) - respondi somente para ver sua reação.
Ele sorriu e desferiu - Homo hominis lupus (O homem é o lobo do homem) - e completou - A gente quer ser legal, mas a vida teima em tentar tirar da gente o que não presta.
-Sim, eu compreendo e concordo - disse-lhe.
E ele - A fronte praecipitium a tergo lupi (À frente, o precipício, às costas, os lobos.) - já se levantando.
Sorri pela resposta, adorei o bate-bola em latim, engalanou meu início de tarde, e justo com um improvável morador de rua, o inesperado acontecendo. Pensei ainda em perguntar como sabia latim, se teve uma educação em algum tradicional colégio de padres, ou quem sabe um professor universitário, por dado motivo, fracasssado; ou ainda quem sabe simplesmente achara um livro de sentenças em latim em algum latão de lixo. Não quis quebrar o momento e me calei, somente recebi seu agradecimento.

Ao se levantar Alexandre o tigrado pulou de seu colo, caminhou pela mesa maciamente, como todo gato deve caminhar, e roçou sua cabeça em meu braço. Vindo de um felino sabia ser um "obrigado" mais que sincero. E isso me completou o dia. Fiz um afago em Bucéfalo e deixei-o voltar para seu porto-seguro.
Ao saírem o cretino da mesa ao lado pronunciou, desta vez educadamente: - Era latim o que vocês estavam falando?
Observando todo aquele verniz e doçura direcionados a mim, vindo de alguém que a poucos instantes demonstrou tamanha rudeza com o desfavorecido, respondi: - Acta simulata substantiam veritatis mutare non possunt (Os atos simulados não podem mudar a substância da verdade.).
Ele retrucou: - desculpe-me, como?
-Sim, era latim. - confirmei, presenteando-lhe com um cínico sorriso.
-Nossa, que doidera. - revelando surpresa e confusão mental. - Detestava aulas de francês na escola. Imagina latim? - disse-me com cara de nojinho. E completou - Só aprendo o que me serve, e olhe lá.
-Docem velle summs est eruditio (numa tradução livre: o simples fato de buscar o conhecimento é a maior das sabedorias). - Sorrindo pra ele disse, preservando meu cinismo.
-Pra mim isso é marciano. - falou-me.
-Eu tenho certeza disso, colega. - Falei, já fechando minha conta e me despedindo do típico presunçoso ignorante.

Não saber de algo não é demérito, mas fazer pouco caso do conhecimento, tal como raposa diante das distantes uvas, é imbecilidade.
Voltei para casa com a impressão verdadeira de que a cada momento, em cada curva e esquina você pode se surpeender, e isso é o encanto da vida.
Atenção aos pequenos brilhantes que a vida oferece em nossa caminhada. São com eles que confeccionaremos o colar brilhante de nossa história.

aliena optimum frui insania (aprenda com o erro dos outros ou, traduzindo mais viceralmente, é bom aproveitar a loucura dos outros)
Fotos: as imagens do CCSP foram devidamente surrupiadas da web; sorry, mas não localizei os créditos das mesmas.

Musica de Fundo: Era - Hymne

13 fevereiro 2010

Algum dia, nas bibliotecas do Universo...

Sabe quando você mergulha em um lago profundo e gelado, e vai descendo vagarosamente para o escuro das águas? Sabe quando seu corpo desobedece e estanca em estranha letargia, em involuntária e desesperada paralisia motora e mental?
Vê a luz da superfície pouco a pouca rarear aos seus olhos, que indiferentes ao turbilhão que agita seu coração foca no vazio do desencato?

E esse mergulho, independente do tique-taque do relógio, parece-lhe demorar um outono inteiro? Sim, parece, não é mesmo?

Mas invariavelmente por um instinto de sobrevivência irracional, animal, que rompe a tecnicialidade, ele, seu corpo, dá um tranco, clama por oxigêncio, pelo fôlego da vida. E num impulso insano você sobe para a superfície. E o primeiro inspirar é ruidoso, grutal, feio mesmo. É a vida gritando revolta pelo movimento. Pelo movimento que é inerente a tudo que faz parte do universo, cada galáxia, cada sistema solar, cada planeta, asteróide, meteorito, poeira estelar se move, se expande e comprime insessantemente. E cada átomo, molécula, corpo ou pedra que se recusa a esse pulsar é sumariamente colocado a movimento ou sentenciado à eliminação, transformação e revida em movimento.


Pai, seu desencarne tão sentido e dolorido me fez submergir num lago gelado, mas sei que não gostarias de me assistir, de onde estiver, mergulhar no abismo do desencanto. Seguirei adiante, mais forte, mais intenso, mais verdadeiro a cada passo. E ao fim, quando finalmente nos reencontrarmos numa outra plaga, o abraçarei certo de seu orgulho pela tarefa cumprida de maneira edificante por seu filho.


Mi padre, mi amigo, sempre estarás em meu peito.
Nosso amor nos levará ao reencontro.
Nos veremos novamente nas bibliotecas do universo,
algum dia.
Toque mais uma vez, please: A Paz - Zizzi Possi