23 julho 2010

La tormenta

Está chovendo lá fora.
Muito.
Nem quero pensar no estrago
que se encontrará quando
parar esta chuva e
se puder sair no alpendre.
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A janela está fechada,
mas eu vou abri-la,
e eu sei que tudo aqui ficará molhado,
e o vento que a acompanha
colocará tudo fora dos seus lugares.
molhará minha roupa e
eu tremerei de frio.
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O vento está assoviando pelos cantos e
pelas frestas,
Remexendo as folhas e os gravetos,
descobrindo o que estava oculto por estes.
Está cantando e avisando da
chegada da tempestade.
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Ela está a alguns minutos daqui
contorcendo suas nuvens furiosas
em roxo e chumbo.
Quando ela chegar, volumosa,
vai extremecer as vigas e colunas,
e quando ela passar não sei se
a choupana que construí com os dias estará de pé.
Não sei se as cercanias que eu conhecia
estarão lá para serem reconhecidas mais uma vez.
E sim, isso só não traz medo para os vazios.
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Sempre que uma tormenta passa
pelo vilarejo da gente,
leva e quebra muitas coisas que gostávamos,
e nos faz chorar ou ranger os dentes.
Sim.
Mas também lava o pó, limpa os grotões,
quebra todos os galhos envelhecidos e telhados fragilizados
com o tempo e com os acontecimentos.
Nos impele para diante,
ainda que que com muita dor.
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ela chegou,
e a janela está aberta.

16 julho 2010

Quem sabe isso tudo valha a pena...

Ontem recebi a ligação de um velho amigo meu. Fazia alguns anos que não nos falávamos. Para ser mais exato cinco anos. No seu telefone havia um certo tom de urgência, isso me preocupou. Foi uma rápida conversa, alguns minutos. Ele pedia que o encontrasse no hotel a qual estava hospedado.

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Eu estava, como sempre com trabalho até o último fio de cabelo, mas eu jamais poderia negar o pedido desse meu especial amigo. Lá fui eu.

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Fui pensando mil coisas, o do por quê ele queria me encontrar assim de qualquer forma. Foram inúmeras as idéias que minha mui fertil imaginação de escritor pôde, no intervalo de 45 minutos, formatar a respeito.

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Quando cheguei no hotel ele me recebeu com largo sorrido e apertado abraço. Bem, pela aparência nenhuma tragédia o assolava os dias, ao menos a cara não declarava.

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Disse ele:

-Eder, amigo meu, vou falar rapidinho porque daqui a pouco tenho de pegar avião de volta a Ásia. -virou-se para uma pasta abriu um envelope e retirou um cd - Segura, é teu, tá autografado e com dedicatória. Agora não me pergunta o que tá escrito que eu não sei nada de chinês.

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Peguei o cd e olhei. Supresa total. Era um cd de uma instrumentista chinesa, Wei Wei Wuu, ela toca erhu (violino chnês), é um expoente contemporâneo do intrumento. Eu sempre amei sua arte. Pois esta é viva. Sua música fala sua extrema sensibilidade.

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Me lembro de ter mencionado uma vez isso com ele faz muitos anos, e ele havia gravado. Não esqueceu. E quando em viagem a china a trabalho, pôde ir ao um evento onde ela tocava e lembrou de mim, do que havia dito, e conseguiu um cd autografado.

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Para mim foi um gesto tamanho em generosidade. Mais ainda, grande prova de carinho, de amizade verdadeira.

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Fiquei muito feliz. Essas coisas fazem a gente acreditar que vale a pena toda essa insanindade de vida e que talvez esteja fazendo as coisas corretamente, que esteja lidando com as pessas de maneira a contrair o respeito e carinho delas.

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Vos digo:

por mais difícil que seja, não lide na superficialidade com as pessoas a sua volta, lide com respeito e atenção. Olhe nos olhos, se importe de verdade.

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Amizade, real ou virtual, é coisa rara, é algo para se guardar longe do nosso lado menos iluminado.

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Quer escutar Wei Wei Wuu? então ouça, aqui.

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01 julho 2010

Na madrugada fria e estrelada...

Voltando para casa hoje, na madrugada, me chamou a atenção o ceú noturno. Estava aberto, sem nenhuma nuvem, lavado pela garôa de horas anteriores.

Antes de entrar no meu Mausoléu, fiquei fitando firmamento, coisa linda. A vivascidade milenar das etrelas.

Entrei, para me proteger do frio uns instantes. Reaqueci meu Croque-monsieur (iguaria preferiada desde a adolescencia). Corpo aquecido e o estômago forrado voltei ao relento, à fria noite, para olhar a beleza celeste.

Coloquei na mureta da sacada minha xícara de café ignorantemente quente e vagarosamente levantei a cabeça e o olhar, e no exato instante, na extaa direção, no exato instante, uma estrela Aqueles um ou dois seguundos viviveis para mim de tamanha beleza foi o incerrar de um movimento talvez milenar.

Fiquei pensando naquela beleza de morte.

Pensei, quantas décadas, séculos, milênios, ou talvez milhões de anos, este fragmento celeste viajou pelo universo, talvez atravessando a galáxia, para naquele momento, finalizar sua "tarefa"; ali, diante de meu olhos. Quantos cinturões, quantas nebulosas, planetóides e planetas tangenciou silencioso e opaco para morrer de maneira brilhante e fulgurante a algumas centenas de quilometros cabeça acima de Ôbèron? no exato momento que olhei para aquele ponto foi seu fim de quantos zilhares de anos?

Enquanto tomava meu café e fazia um cafuné fiquei a pensar nisso tudo, na viagem, na cincronicidade das coisas.

Da cincronia dos encontros, que magia amarra os fatos?



De como, por exemplo, duas pessoas na grandeza do mundo, se encontram dado momento e se apaixonam, de como um ser humano encontra sua morte numa sequência de fatos não críveis tamanha a volta das coincidências, e de tantas outras cincronicidades da vida.

Destino? Fatalidade? Circunstancialidade? Uma mão invisível, governança oculta?

O que é destino e o que é fruto das ações humanas?
O que é inefabilidade e o que é simples improbabilidade físio-química.

O que é "vontade de Deus" e o que é simples limitação do homem diante das circunstâncias?




O que um pedacinho de pedra viajando no espaço não faz com cabecinha mole de alguém sem mais nada o que fazer no meio da madrugada, não é mesmo?


ps.: no meio desse "pensarê" todo esqueci de fazer meu pedido pra estrelinha : S