23 junho 2010

Os pingos no meu rosto

Quando tinha nove anos deram-me
um violino de palmo e meio
e palmo e meio de emoções.
(Yehuda Amichai)

Um dia melancólico hoje aqui está, não sei, não me pergunte a razão, simplesmente está. Há um vazio, não em mim, mas nesta casa. Sentindo falta de coisas, coisas que nem sei o que.
Tenho trabalhado muito, viajado muito, rompendo muitos limites, quebrando meus mitos e medos, mas sem olhar para o lado, pois é hora de romper as amarras. Sim, mas isso tem seu custo. Como o velocista que quando, ao estouro do sinal, rompe o ar com toda a explosão de seus músculos, ele só vê a reta de chegada ao longe, para ele nada mais existe, tudo para, o giro da esfera, o cair das folhas, o rugir do mar, nada mais, somente seu corpo em extremo segue de encontro ao seu foco. E ele vai.

Mas isso tem seu custo.

Só os mortos não morrem
Só eles a mim me restam
São tranquilos e leais
Os que a morte não pode matar
Mais com seus punhais.

Ao declinar da estrada
No final do dia
Em silêncio se acercam,
Em sossego seguem minha via.
Verdadeiro pacto é o nosso
Nó que o tempo não desmente
Só aquilo que perdi
É meu eternamente.
Rahel (Bluwstein)
Estou olhando para os lados agora, nada mais. Está tudo tão silencioso, as folhas ainda não estão caindo, e a esfera ainda tarda.
Vivo em estradas paralelas, onde uma estou vencendo em dias de sol, em outras perco em dias de chuva, em algumas o murmurindo da multidão vibra o ar, numas o silêncio vibra meu ser.
Sou um e sou vários, com humores diferentes, satisfações diferentes. É interessante este meu momento. Ao mesmo tempo que sou foco, sou refração. Mas creio, é a tônica do mundo, do ser humano. sou só mais um.
Então, sou único, mas sou como qualquer um.
Procurei em livros e livros,
Um poema,
Um parágrafo,
Uma frase,
Que me resguardasse da mágoa, Como janela de vidro protegendo o rosto da chuva.
Mas nada do que leio chega para contar o que sinto.
( N.G.J. )

Por vezes me pergunto, estou fazendo a coisa certa?
Os dias dirão.

Sinto os primeiros pingos em meu rosto.

2 comentários:

Vallak disse...

Às vezes olho para ti e vejo um abismo profundo, uma abismo oceânico, escuro e frio, inalcançável. Por outro lado algumas vezes se apresenta chama intensa, lava incandescente, um galago serelepe e elétrico, confesso que essas duas facetas são pessoas fascinantes e carismáticas. Você é e sempre foi um ponto de referência por onde passa, por sua postura, por suas ações.
Amigo, você sabe o quanto o prezo, e o quanto respeito, desejo para você tudo quanto ha de bom.
Já faz tempo que não temos mais aquele contato de outrora, mas gostaria de tê-lo.

Sempre que precisar estarei por aqui. Penso, talvez me engane, andas muito solitário, sombrio, em provas. Se quiseres falar sobr eisso, estou sempre estive, sabes onde me achar.

abraço forte, meu caro.
Vallak.

Diana Akhummed disse...

Lindo esse poema do Yehuda Amichai. Me deu uma emoção, sei lá.

uma fábula, um encanto seu blog. Entrei através do Portas avessas.

beijos dourados