26 junho 2010

Textos empoeirados

Nesta madrugada, por um acaso, tropecei nesse meu velho texto, escrito faz alguns anos, ainda do tempo das velhos grupos de discussão, antes da internet como a conhecemos, das BBS's alguém lembra disso? era parecido com que hoje conhecemos por email. Foi no ano que a Embratel abriu o serviço comercial da net, mas praticamente so havia linhas entre centros acadêmicos. Isso que conhecemos, portais como Ig, Globo, UOL, Terra, Google, nada disso existia, como era chatinho, praticamente so havia os grupos de discussão, tudo em texto, nada de imagens, nada de HTML, eu tive sorte que minha agência de comunicação ligada ao grupo Abril era plugada na rede, por tempos limitados durante o dia, claro.
este texto, me fez rememorar, e fez reviver dadas sensações, do momento descritos naquelas linhas. Resolvi postá-lo por aqui.
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Salve, lista.
As coisas que queremos estão ou acontecem nos lugares e momentos em que não estamos preparados para enxergá-los, algumas vezes.
Sendo desta maneira, passamos muito tempo pedindo por coisas que estão diante de nós o tempo todo. Parece tão óbvias estas palavras que poderia, em primeiro momento, soar inútil dizê-las. Mas só com a repetição poderemos tê-las (pelo menos um pouquinho tempo) em nossas mentes.
senão vejam só...
Hoje, por conta de uma greve de ônibus em Sampa, o trânsito estava terrível. E eu, para chegar em meu principal cliente, preciso atravessar a cidade e ir até um município vizinho. Isso significa percorrer algumas dezenas de quilômetros, que em dias normais leva-se pouco mais de uma hora (imagina-se hoje...).
Em meio àquele transito caótico pensava comigo sobre buscar uma qualidade de vida mais satisfatória, talvez me transferir para o interior ou para uma cidade litorânea, sei lá...algo que fizesse com que eu me poupasse de dias como esse (cada vez mais freqüentes por aqui,) da violência, da poluição de toda ordem, da impessoalidade do tratamento entre as pessoas das metrópoles; era necessário.
Certo momento parei e estacionei em uma confeitaria, telefonei avisando que não compareceria na agência como de hábito, pedi um café e me pus a pensar naquilo tudo. observava as feições dos motoristas que passavam, das pessoas que transitavam pelo passeio. Todos extremamente irritados. Pensei de como estava sendo alimentada uma nuvem de "mau-humores" sobre a cidade.
Cadê a beleza humana dessa cidade? - questionei a mim mesmo - numa cidade assim não quero viver.
Sentei na extensa soleira do estabelecimento, bem no cantinho, perto de uma cerca viva.
Ao mesmo tempo que observava a movimentação da via, percebi que naqueles arbustos agitavam-se uma comunidade de besouros (e que bichinhos bonitinhos aqueles), fiquei a admirá-los, me perdi, absorto naquela cena, na micropaisagem esquecida pela selva de concreto, quase dentro dela.
Uma criança chegou também e eu mostrei o centro de minha atenção, falei algo sobre e, agora acompanhado, retornei àquele voyerismo coleóptero (rs). Por algum tempo toda minha vida se resumiu a olhar aquele pequeno espaço.
Quando dei por mim percebi que agora éramos três, o irmão do garoto havia chegado e sem que eu me desse conta já estava sossegadamente instalado em meu cangote. E o primeiro garoto recostado em meu ombro também via aqueles pequenos insetos.
Aquela tranqüilidade e naturalidade que pessoas que não se conheciam mostravam ao assistirem, juntas, uma cena tão frugal e despretensiosa era, pra mim, algo mágico (caso vc esteja se perguntando o q isso tem a ver com magia), transcendente, e me fez ver a beleza da cidade que minutos antes se recusou a exibir-se aos meus olhos.

Aquilo que eu buscava no interior, no mar, longe dali, a quilômetros, estava agora num raio de um metro e meio à minha volta: a Beleza Simples da vida, Combustível da Saúde do corpo e da alma; Magia Suprema que traz amor e esperança.
Estas coisas são tão certas, claras e manifestas que na maioria do tempo esquecemos, ignoramos.
Deixamo-nos dominar pelo desencanto e pela irritação e nos tornamos cegos para O Grande Encantamento do Mundo e buscamos magia em palavras místicas ou rituais elaborados, alegria e felicidade em conquistas temporais e lugares longínquos, impossíveis de chegar.


A única coisa que peço esta noite aos gênios da minha vida e aos Deuses do Mundo é que não me deixem muito tempo esquecido destas verdades. Tenho certeza que serei feliz por muito mais tempo caso isso ocorra.


Vida longa à todos!
Ôþèrøn



por Ôbèron
JUN 1995

3 comentários:

Ana disse...

Q lindo Éder!
Li, reli, imaginei as cenas, sorri!
Sim caríssimo!
Há magia em tudo q nos cerca.Somos, podemos ser "magia".Penso ser uma das tantas dádivas q a vida oferece.
Perdemos tanto e tanto quando não enxergamos/sentimos esses instantes perfeitos!
Vivemos esquecendo "Tudo é uma coisa só".Um.É só "abrir as portas".
Belíssimo texto."Necessário".

Uma proposta:
Q tal nos permitir conhecer essas "gotas mágicas de vida" q vc guarda?Certamente muitos de nós, nos penduraríamos virtualmente em seu pescoço!
Q os Deuses da escrita te abençoem.

Kari disse...

Lindo.

Vallak disse...

seu olhar me causa meda.